quarta-feira, 28 de outubro de 2009

SOLUA


A Branquinha é uma gata branca, roliça, muito simpática e risonha. No entanto, é um pouco diferente das outras gatinhas, nasceu com uma patinha a mais…
A princípio, não entendia porque os outros gatinhos não brincavam com ela no jardim. Mas, depois, pouco a pouco percebeu que se afastavam dela porque tinha essa “diferença” dos outros. E, chorava no seu cantinho …
- Porquê?!- perguntava-se. Os outros gatinhos também eram todos diferentes uns dos outros: uns eram castanhos, pretos, com manchas, uns eram verdadeiras “bolinhas” de pêlo, outros mais esguios, uns tinham o nariz arrebitado, outros a cauda grande e peluda…
Então, começou a isolar-se, arranjou um esconderijo, numa garagem pouco usada pelos donos e, ali, passava os dias enrolada num cestinho velho, onde se aconchegava. Sentia-se triste e angustiada, não tinha ninguém com quem partilhar o que sentia.
Quando queria apanhar um pouco de ar fresco, saía só à noite, para não encontrar ninguém.
Um dia, ouviu uma voz:
- Porque estás tão triste, gatinha? - perguntou-lhe a Lua
-Sinto-me sozinha…Não tenho ninguém com quem brincar e conversar… - lamentou-se Branquinha
- Agora, já tens aqui uma amiga, eu sou a Lua e, tu, como te chamas?
- Sou a Branquinha.
- Olha! Por acaso, já reparaste que eu também estou sozinha neste céu imenso?
- Pois é! Não te sentes sozinha?
- Não! Tento concentrar-me mais nas coisas positivas, sabes?
- Como, que coisas positivas?
- Olha, por exemplo, que sou muito brilhante e ilumino a Terra, durante a noite!
- Pois é, nunca tinha pensado nisso…
- E se reparares bem, não estou sozinha…Olha bem para o céu, que vês?
- Vejo-te só a ti…
- Olha com atenção!! Não vês aquelas estrelinhas a brilhar?
- Ah! São tão pequeninas, que nem tinha reparado!
- Estás a ver? É preciso estar com muita atenção para conseguirmos ver os outros, mesmo os mais pequeninos. Por isso, tu tens que sair durante o dia para descobrires outras coisas que não podes apreciar se estiveres isolada no teu canto. Prometes que amanhã, dás uma voltinha durante o dia?
- Vou tentar…
- Boa!! Então encontramo-nos um dia destes à noite, para me contares as novidades.
- Está bem! Obrigada pelo apoio!
No dia seguinte, de manhã bem cedo, Branquinha saiu da garagem. Decidiu que, a partir deste dia iria tomar atenção às pequenas coisas, como a sua amiga Lua lhe tinha aconselhado. Respirou fundo e viu que estava uma linda manhã de sol! Ouviu os passarinhos e resolveu ir dar uma volta pelo campo. As flores tinham umas cores tão bonitas, a relva tinha um aroma tão fresco! Pela primeira vez em bastante tempo, sentia prazer em estar na rua, sem vontade de se esconder.
Foi então, que ouviu:
-Olá! Que andas a fazer por aqui?
- Olá, eu sou a Branquinha e ando a passear. E tu, como te chamas?
- Eu sou o Sol, sou amigo da Lua.
- A sééério? Eu também sou amiga dela! Chamo-me Branquinha.
- Pois, eu já sabia! Hoje quando ela saiu do serviço ao fim da noite e eu entrei, ao princípio da manhã, ela contou-me a tua história…
- Pois!… Não é uma história muito alegre…
- É uma história como as outras, Branquinha! Todos nós, temos os nossos dias melhores e outros piores…Todos temos uma face escura e outra clara.
- Como é isso possível?!
- É muito simples: todos temos uma parte triste e uma parte alegre, uma escura e uma clara, como os dias e as noites, o Sol e a Lua. Mas essas duas faces, complementam-se! É assim também com todos os seres. Somos todos diferentes, mas há sempre um que nos complementa e nos preenche!
- Nunca tinha pensado nisso…
- Pois é. Mas agora que já estás desperta para esta verdade tão simples, tens que viver a vida alegremente e com gosto e vais ver que tudo muda para melhor!
- Obrigada, meu amigo Sol. Tu e a Lua são os meus melhores amigos!
- E somos tão diferentes, já viste?
- É verdade, nunca mais me vou esquecer disso!
A partir desse dia, a vida de Branquinha nunca mais foi a mesma. Como gostava muito de escrever, começou a ir para o jardim, para se inspirar e fazia poemas lindíssimos. Já não se importava com o que os outros pensariam dela. Vivia tranquila e feliz.
Certo dia, enquanto escrevia, aproximou-se um gato, grande e negro como a noite e não tinha cauda. Trazia consigo uma paleta com cores variadas, um pincel e uma tela.
- Que estás a fazer? -perguntou-lhe o gato. Eu chamo-me Preto -
- Eu sou a Branquinha! Estou a escrever poemas sobre a Natureza – respondeu-lhe a gata.
- Que interessante! Eu também gosto da Natureza! Por isso, venho para aqui fazer as minhas pinturas.
E um brilhozinho especial inundou os olhos dos dois gatos…Começavam a apaixonar-se!
A partir daí, tornaram-se inseparáveis! Branquinha escrevia os poemas e Preto ilustrava-os. E assim, publicaram um livro, que era um testemunho que as suas potencialidades se complementavam.
Os dois gatinhos casaram, tiveram uma filhota, a SOLUA e foram felizes para sempre!!!